quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Tempestades de Primavera

Tá combinado. Estamos na Primavera, embora o clima seja o mesmo do inverno. 32o C, no mínimo. Acho que fiquei um bom tempo sem assunto, senão aqueles de sempre: patifaria de todo tipo no Planalto, violência grassando por todo lado, falta de empenho de uma oposição organizada, descasos com a saúde, educação, etc. Enfim: na mesma. Mas, volto à letras justamente diante da euforia com que se recebeu a notícia que o Brasil irá ser sede da Copa do Mundo em 2014. Posso estar confundindo alhos com bugalhos, porém, tenho receio que essa imagem de salvador da Pátria de chuteiras não nos leve ao hexa e sim a um malfadado "tri".
Li recentemente um artigo do professor Roberto Romano, "Naudé e os Golpes de Estado", e sinto-me feliz em compartilhar (humildemente, é claro) de sua opinião sobre o atual mandatário do país, embora cresça e muito a preocupação com o rumo da política brasileira. Às vezes, tenho esses delírios políticos e como nem sempre posso expô-los a alguém, quando um eminente professor de Ética e Filosofia Política confirma meus presságios, compreendo que meus pensamentos não são assim tão ilusórios.
Não vou aqui transcrever o artigo, embora ele mereça ser lido e refletido por todos de boa vontade. O Gabriel Naudé lá do título do artigo é um ex-assessor de Richilieu, que segue o modelo de Maquiavel, traçando inúmeras teorias sobre os golpes de Estado, que se encaixam muito bem nos prognósticos atuais e futuros. Naudé coloca o interesse público acima do particular, quando faz por exemplo o elogio da "Noite de São Bartolomeu" (1572), para ele mais do que legítima.
Só para lembrar as aulas de História Geral, a ambição de uma mulher, Catherine de Médicis, levou a um dos piores massacres da história da França. A tentativa fracassada de assassinar o líder huguenote Coligny, que influenciava o rei Charles IX, fez com que Catherine planejasse um assassinato maciço de huguenotes em 24 de agosto. Desta vez Coligny não escapou. Cita-se que o massacre repetido por toda a França gerou a morte de cerca de 20 mil huguenotes em dois dias.
O problema é que os políticos, inclusive os locais, fazem uma leitura errônea de Maquiavel e até se apoiam em São Tomás de Aquino, fazendo-se de desentendidos sobre o verdadeiro alerta de seus escritos. Aqui retorno ao artigo do professor Romano ao citar São Tomás: "não é preciso, que um tirano para se manter no poder, pareça cruel aos subordinados. Pois se assim fosse ele se tornaria odioso, o que os pode facilmente levantar contra ele. Mas ele deve parecer venerável pela excelência de alguma virtude; e se não possui tal qualidade excelente, deve fingir que a possui."
"Simulando virtudes, diz Roberto Romano, o tirano modifica micrologicamente as leis - vide MPs - adequando-as aos seus interesses privados, contra a ordem pública. Alerta ainda o professor: "Se não for esse o "modus operandi" de boa parte do atual governo, provem e ( ... ) parem de falar em golpes de mídia ou das elites, pois estes são usados para dissimular o golpe urdido nos gabinetes, alguns da "oposição". Falo do terceiro mandato para Luís Inácio Lula da Silva".
Acho que uma análise do governo Lula e de seu deslumbramento pelo poder explica seu afastamento gradual das promessas lulistas tecidas ao longo de sua vida como sindicalista e que, assim como Catherine de Medicis, está havendo um perigoso desvio na leitura de Maquiavel pelos governistas.