quarta-feira, 12 de março de 2008

Uma cidade sem planejamento

Estamos em ano eleitoral. Para alguns prefeitos é época de mostrar que os quatro ou oito anos no poder foram produtivos. Para outros, infelizmente a maioria, não há nada a mostrar, exceto o número de cargos comissionados que conseguiram produzir.
Mogi Guaçu está nesse rol. Uma cidade sem lei, sem planejamento, onde tudo é feito de afogadilho. Narro um evento bem recente. Nesta semana, por força das chuvas - elas são sempre as culpadas - a Rua Paula Bueno, por onde transitam veículos pesados que se dirigem para as indústrias ou para a vicinal que liga o município a Itapira foi interditada. Uma árvore caiu. Elas caem quando prejudicadas por pragas ou por serem muito velhas. Pois bem, o trânsito imediatamente foi desviado para uma rua vizinha. A rua Goiânia, de forte declive, tornou-se um verdadeiro corredor da morte, com carros, motos e caminhões pesadíssimos trafegando em velocidade excessiva. Apareceu alguma autoridade de trânsito para disciplinar esse fluxo invulgar? Imagine... Nem ao menos se pensou em dividir o tráfego para a outra rua paralela, a Florianópolis, amenizando assim os riscos. Os resultados foram fiação arrancada por caminhões cuja altura excede o permitido, galhos de árvores jogados pelo chão, sem falar para o perigo representado para os moradores. Isso é planejamento?
Não tenho noções técnicas, mas acredito que quando um desvio desse tipo é realizado, deve ser acompanhado pelos "especialistas" municipais, justamente para orientar pedestres e motoristas e coibir os abusos. Tudo isso é claro em uma cidade ideal.
Em tempo... A cidade carece de pontes para o escoamento dos veículos entre a zona sul e as demais. Basta verificar o gargalo que diariamente se forma junto à ponte de ferro. Será que é para dar a impressão de crescimento ou é mero descaso de quem deveria governar com os olhos no futuro?

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Na Memória ...


A minisérie da Globo "Queridos Amigos", escrita por uma colega de faculdade, Maria Adelaide Amaral, que acredito cursou a Cásper Líbero um ano antes de mim, fez-me recordar alguns episódios vividos à epoca.
Sem ser militante de qualquer facção, apenas a curiosidade e a adesão às idéias contrárias a uma ditadura militar, levaram-me a participar de passeatas e reuniões promovidas pelo Movimento Estudantil.
Como trabalhava em um banco no centro de São Paulo, assim como outros universitários, era fácil ficar sabendo o que iria acontecer. Além disso, uma colega de trabalho era estudante de História na USP e trazia todos os agitos que por lá circulavam. Assim, "sem querer querendo", marchamos em passeata em frente a Universidade de Direito do Largo São Francisco, gritando palavras de ordem e perturbando a ordem geral já caótica do fim de tarde em São Paulo. Nessa ocasião, ao passarmos próximo a uma senhora idosa que nos assistia - não me lembro como era o refrão repetido à exaustão - alguma coisa como mais pão, ela docemente me falou: "peçam leite também, está muito caro".
Até hoje lembro com ternura de sua doce ingenuidade.
Noutra ocasião caminhamos do centro da cidade, sob chuva - eu de salto alto e roupa de bancária - a um comício contra a ditadura na Estação do Brás. De lá, voltamos pela avenida, braços dados em corrente, até divisarmos o regimento de Cavalaria da Polícia Militar que vinha com cacetetes em punho de encontro aos agitadores.
Pernas pra que te quero... os estudantes espalharam-se pelas ruelas próximas. Eu e essa amiga entramos no primeiro ônibus que passou. Ironia. O veículo nos levou para as proximidades da rua Maria Antônia, na célebre ocupação pelos alunos da USP, onde encontramos outros conhecidos.
O episódio histórico de 1968 ficou conhecido como "Batalha da Maria Antônia" que, mais tarde, tornou-se ícone da luta contra a opressão e injustiças causadas pelo regime militar. Nele, os alunos da USP, apoiados por estudantes secundaristas e outras instituições, colocaram-se contra alunos do Mackenzie e membros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), às vésperas do AI-5 (Ato Institucional número 5). Durante a revolta, um estudante secundarista (José Carlos Guimarães, 20) foi morto com um tiro na cabeça, três universitários foram baleados e dezenas de outros feridos.
Lembro-me que cheguei em casa mais de meia-noite, inteiramente molhada, mas vibrando ...Tinha estado onde ocorria a notícia.
Minha mãe, aliviada em me ver chegar, exclamou: "ainda bem que chegou. Estão batendo e prendendo os estudantes lá no centro".
Eu tranquilamente retruquei: "Eu vi, eu estava lá"!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

2008 avante

Um novo ano já está em andamento. Nada de novo no cenário pátrio, além de taxação de impostos, reclamações sobre o fim da CPMF (será que não voltará com outro nome), por parte do governo que ameaça cortar céus e terras. Tudo culpa dessa despudorada imprensa. Lembro-me que o atual Bolsa Família já foi chamado Bolsa-Escola, com a obrigatoriedade de as escolas públicas fornecerem a veracidade da presença dos alunos "de baixa renda" às aulas. Hoje, não sei.
Estamos em ano eleitoral e o panorama que se descortina é "dos mesmos". Não há nomes novos na política municipal, estadual ou federal. Vez ou outra surge um político de quem nunca se ouviu falar. Porém, se buscarmos sua árvore genealógica descobriremos que é filho, neto ou afilhado do fulano de tal, macaco velho na politicagem geral. É Brasil mesmo. Subdesenvolvido, analfabeto e recordista em cirurgias plásticas, violência no trânsito e nas ruas.
Vi, recentemente, a entrevista do sociólogo Alberto Carlos de Almeida, autor do livro "A Cabeça do Brasileiro" (Ed. Record, R$ 42). Ele e sua equipe desenvolveram uma pesquisa inédita sobre os valores enraizados na cultura brasileira. O que são esses valores? A forma como as pessoas pensam sobre determinados assuntos da vida nacional, baseando-se em faixa etária variada. A pesquisa enfoca quatro módulos. Não me recordo todos, mas lembro-me de um deles tratar de corrupção e jeitinho. Há a pretensão de ampliar futuramente esse espectro sobre a sociedade nacional, se o autor conseguir novas verbas para a pesquisa.
Suas conclusões não são novidade alguma para aqueles que se debruçam sobre a realidade do país. Quem tem escolaridade maior, pouco mais de 10% da população (estimo eu) consegue pensar um pouco mais modernamente e ter algum discernimento sobre o quanto somos pouco desenvolvidos. Aqueles sem escolaridade ou com baixa escolaridade, os quase 90% restantes, aceitam o famoso "jeitinho" e esperam que suas vidas mudem milagrosamente. É claro que são facilmente manipuláveis nas mãos dos marqueteiros da vez.
O corte que diversifica as opiniões, segundo Almeida, se faz não regionalmente. A escolaridade é o fator dominante para mostrar a diferença de mentalidade seja no norte, sul, leste ou oeste do país. O sociólogo prevê que sem um empenho maciço em educação de qualidade, nada mudará neste Brasil que conhecemos. Ainda se houver esse forte empenho, levará cerca de 10 anos para se notar alguma mudança... Até lá, bem ... chega por hoje.